
Aquela
garrafinha de água que acompanha seu dia ou o pote plástico que vai ao
micro-ondas com seu almoço parecem práticos e inofensivos. Mas a verdade é que,
por trás da conveniência, há um risco químico silencioso — e ele pode estar
refletindo diretamente no seu couro cabeludo.
Quando
aquecidos, expostos à luz solar ou simplesmente com o passar do tempo, os
plásticos liberam xenocompostos — substâncias como bisfenol-A (BPA)
e ftalatos, que atuam como disruptores endócrinos, ou seja,
imitam ou interferem nos hormônios naturais do nosso corpo. E não é preciso
ingestão direta: basta armazenar alimentos ou líquidos nesses recipientes para
que pequenas doses desses compostos entrem no organismo — todos os dias.
O que isso tem a ver com seus cabelos?
Muito
mais do que parece. Os cabelos, assim como a pele, são reflexos sensíveis do
equilíbrio interno do corpo. Alterações hormonais afetam diretamente o ciclo
capilar, podendo desencadear queda, afinamento dos fios, enfraquecimento da haste e processos inflamatórios no couro cabeludo.
A
exposição prolongada a disruptores endócrinos pode causar desregulação do
eixo hipotálamo-hipófise, além de interferir em hormônios tireoidianos,
andrógenos e estrogênios — todos fundamentais para a manutenção da saúde dos
folículos pilosos. E mais: compostos como o BPA também estão associados a processos
inflamatórios crônicos de baixo grau, que impactam negativamente a microcirculação
periférica, dificultando a nutrição dos bulbos capilares.
Em outras
palavras: aquilo que você bebe e come — e, principalmente, onde isso está
armazenado — pode estar interferindo na vitalidade dos seus cabelos.
O ciclo invisível de agressão
Além da
ação hormonal, o contato contínuo com xenocompostos pode gerar um efeito
dominó: inflamação sistêmica → estresse oxidativo → disfunção mitocondrial →
comprometimento da produção de fios. Folículos em ambientes inflamatórios
entram mais rapidamente na fase telógena (queda), e demoram a retornar à
fase anágena (crescimento).
Esse
padrão é frequentemente observado em pessoas que sofrem com queda crônica
inexplicada, couro cabeludo reativo ou sensível e cabelos que não respondem
bem a tratamentos tópicos. Em muitos desses casos, a raiz do problema pode não
estar nos cosméticos — mas sim nos hábitos alimentares e ambientais.
Como se proteger — e proteger seus cabelos
- Troque a garrafa plástica
por vidro ou aço inoxidável. Principalmente se você a deixa no carro, na
bolsa ou sob o sol.
- Evite aquecer comida em
potes plásticos. O
calor acelera a liberação de toxinas.
- Armazene alimentos em
recipientes não plásticos. O silicone de grau alimentício e o vidro são
ótimas alternativas.
- Prefira produtos sem BPA. Já existem no mercado
opções identificadas como "BPA free".
Cuidar da saúde dos cabelos vai além do que se passa na superfície. A qualidade da água que você consome, a maneira como armazena seus alimentos e até o copo que você usa todos os dias fazem parte dessa equação.
A tricologia também se conecta com a toxicologia
Para os profissionais da saúde capilar, essa é uma fronteira que merece atenção. O olhar clínico precisa incluir hábitos alimentares, estilo de vida e exposições ambientais — especialmente em casos de queda persistente e inflamação do couro cabeludo. Cabelos nascem de dentro para fora. E, como qualquer outro tecido vivo, são profundamente influenciados pelo ambiente bioquímico em que se desenvolvem.
Referências:
Kim, J.H., Park, H.Y., Bae, S., Lim, Y.H., Hong, Y.C. (2016). Exposure to
bisphenol A appears to impair hair growth in humans. Environmental
Health Perspectives, 124(8), 1265–1271. https://ehp.niehs.nih.gov/doi/full/10.1289/ehp.1408943
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